Kitesurf: Uma visão abrangente das origens gerais e desenvolvimento específico em Portugal

O Kitesurf é um desporto aquático que utiliza um kite, ou papagaio, e uma prancha com suporte para os pés, sendo o objetivo, “voar” e deslizar sobre a água, puxado pelo kite. É uma mistura de windsurf, surf e wakeboard. Este desporto é recente e está a ficar popular em Portugal e no mundo.

O kitesurf que nós conhecemos hoje foi criado por dois irmãos franceses, Bruno e Dominique Legaignoux, em 1985. O nome veio da junção de duas palavras inglesas: kite, que significa papagaio e surf, que quer dizer deslizar sobre a água. Mas muito antes disso já se ouvia falar do kite em si. Há cerca de 2 mil anos, os chineses já o utilizavam para auxiliar os barcos no transporte de materiais pesados.

O kite também teve outras “funções” no decorrer da história. O inglês George Peacock é considerado o pai da tração com kite por ter inventado, em 1826, uma estrutura em que uma carroça era puxada por kites a uma velocidade de até 20 km/h. O norte-americano, Samuel Franklin Cody chegou até mesmo a navegar no Canal da Mancha ao ser puxado por um kite. Em 1887, C. Jobert fez uma asa de salvamento “com a forma de U invertido” que funcionava através dum cabo ligado ás embarcações mutiladas, arrastando-as para a costa, apenas com a força do vento.

Muito tempo depois, por volta dos anos 1970 e 1980 o kite chegou a ser usado para impulsionar canoas, patins, patins no gelo, esquis e esquis aquáticos. O suíço Andréas Kuhn foi quem chegou mais perto do kitesurf atual. Ele utilizava um kite de aproximadamente 25 metros quadrados para o impulsionar sobre uma prancha parecida com as wakeboards que conhecemos hoje em dia. Os seus saltos chegaram a ser televisionados e divulgados em toda a Europa.

Mas, havia ainda um grande problema a ser resolvido. O kite, ao cair na água, não permitia uma nova decolagem. Esse foi o grande diferencial do kite dos irmãos Legaignoux – eles criaram uma kite inflável que, além de permitir ser reerguido caso caísse na água, também retornava num ângulo de 10 graus contra o vento, ideal para a decolagem.

Em 1984, J. Woodbridge Davis conseguiu elaborar um kite para o mesmo fim que C. Jobert, mas bastante mais elaborado, porque além de poder ser dirigido através de duas linhas, tinha a característica de poder ser relançável da água. Esta asa tinha o nome de “Wipikat”.

Nem tudo foi fácil para os irmãos Legaignoux. Em 1985, ano em que conseguiram obter a patente da invenção que se chamou Wipika, o windsurf estava no auge e nenhuma empresa quis arriscar-se a produzir o kite. 

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A asa Wipika foi imediatamente testada com pranchas e skis aquáticos e durante os anos seguintes foi aperfeiçoada.

No final dos anos 80, na América, Cory Roseler e o seu pai, desenvolviam o kiteski, que pouco tinha a haver com o conceito dos irmãos Legaignoux, visto serem tracionados por um papagaio rígido, tipo asa delta, em que o comando era uma barra com um carreto que recolhia as linhas sempre que a asa caía dentro de água. Cory foi a primeira pessoa a ser vista a “subir ao vento” com skis aquáticos. Em 1992 Cory Roseler conseguiu a patente da sua invenção.

 

Em 1993 Laurent Ness associou o seu grande papagaio delta, feito em casa, a uma prancha de windsurf.

Em 1994 Manu Bertin iniciou a mesma prática no Hawai com uma prancha longboard associada a uma asa do tipo parapente. 

Em 1995 Manu Bertin foi a França e descobriu a Wipika dos irmãos Legaignoux. Levou-a para o Hawai onde começou a desenvolver a prática com uma prancha de surf com footstraps. Com este conjunto de materiais, a partir deste momento este desporto começou a ter uma rápida evolução.

Manu Bertin foi o primeiro kitesurfista a sair em publicações de revistas de 1996.

Na mesma altura Mike Waltze e Laird Hamilton tomaram conhecimento, através de Manu, da existência da wipika e acabaram por ser também dois dos grandes pioneiros do kitesurf.

Em 1997 Rafael Salles e Laurent Ness desenvolveram a primeira marca a produzir pranchas especialmente feitas para kitesurf

Um dos responsáveis pela divulgação do desporto foi Robby Naish, campeão mundial de windsurf. Naish apaixonou-se pelo desporto e hoje, além de velejar é também um fabricante de kite. Ele inclusive foi o primeiro campeão mundial de kite, num torneio realizado no ano de 1998, em Maui, no Havaí. As manobras realizadas podem ser de transição (mudança de direção), de salto (feitas no ar) e as feitas na onda (adaptadas do surf, mas com grau de dificuldade alto). As pontuações são diferentes para cada tipo de manobra.

Em Portugal, no verão de 2001 houve a 1ª competição a nível nacional organizada pelo Clube Overpower. Arnaud Dussen ficou em 1º Lugar e em 2º ficou Duarte Coelho. No verão de 2002 criou-se a APKITE (Associação Portuguesa de Kite) oficialmente a única associação de Kitesurf do país e desenvolveu-se o primeiro circuito nacional de kitesurf.

Em 2002 houve as primeiras reuniões entre os futuros membros fundadores da APKITE, o registo do domínio APKITE.PT e a constituição legal. Em 2003 o anúncio do primeiro campeonato nacional de Kitesurf composto por 4 etapas. Vilamoura, Viana do Castelo, Aveiro e Costa da Caparica.

Em 2004 o segundo campeonato nacional de kitesurf composto desta vez por 5 etapas de norte a sul do país, Vilamoura, praia da Comporta, praia da Nova Vaga, Viana do Castelo e Gaia. Nesse mesmo ano, houve a promoção de 3 cursos de formação de instrutores onde se formaram 31 novos instrutores pela APKITE. Desenvolvem-se também vários contactos a nível Europeu para a formação de uma Associação Europeia de Kitesurf

Desde aí, ao longo dos anos, houve mais competições, patrocinadores, presença nos media, cursos de formação de instrutores, abertura de escolas oficiais, reuniões para reservar zonas de praia exclusivas para a prática de kitesurf, formações em meteorologia e primeiros socorros, formação de jurados de kitesurf, etc…

Hoje em dia, quem trata de toda a logística e oficialização/organização dos cursos e escolas é a FPvela. É a organização que, legalmente e oficialmente, regula tudo no mundo português do kitesurfing, desde as licenças para as escolas até às competições. A FPvela é uma organização multidisciplinar que envolve vários desportos aquáticos. Na sequência da prova da Fuzeta do Campeonato Nacional de Kiteboard em Setembro de 2019, e depois de confirmado pelo Presidente do IPDJ que, era de facto a FPVela que teria a coordenação do Kiteboard, surge novamente interesse da comunidade em formar uma lista. Com o continuado apoio e interesse da FPV, da Autoridade Marítima Nacional, do IPDJ, da comunidade, praticantes, escolas e atletas, reafirma-se a importância da criação dum novo corpo para apoiar, dinamizar e gerir a modalidade sob alçada da FPV, que é algo que a APCK (Associação Portuguesa da Classe Kiteboard) tem vindo a tentar fazer.

Tudo isto levou a um interessente crescente de atletas e do pública geral para o desporto incrível que é o kitesurf. Tudo fez e continua a fazer com que pessoas como François Beck passem anos à procura dos spots mais deslumbrantes e abram escolas para passar a palavra, boas vibes e todo o conhecimento experiência e know how de um deporto que é demasiado bom para ser mantido em segredo. 

Desde a patente dos irmãos Legaignoux, em 1985, muita coisa mudou, desde a introdução da primeira competição mundial até à lenta mas segura inserção do kitesurf na cultura de vários países incluindo Portugal. Inúmeros desenvolvimentos na tecnologia dos materiais, competição saudável por parte das marcas, patrocinadores e dos próprios atletas, tudo fomentando para o aperfeiçoamento do desporto, indica que o kitesurf veio para ficar e certamente só vai crescer daqui para a frente.